domingo, 12 de junho de 2011

Palhaçadas por dois palhaços argentinos

O "Circovolante - 3º Encontro de Palhaços" reuniu no último mês artistas de diversas partes da América Latina, em quatro dias de espetáculos nas várias praças e ruas da cidade de Mariana. Entrevistamos dois artistas do evento: os palhaços argentinos, Martin e Fidel (foto acima: Naty Torres). Os dois, constantemente em dupla, responderam em conjunto.

Como era a vida de vocês antes de virarem palhaços? O que vocês faziam?
Não entendo o objetivo da pergunta, porque na verdade eu não sei exatamente qual foi o momento exato em que eu comecei a ser um palhaço. Acontece que lá em Buenos Aires nós temos um espaço cultural que apareceu dentro de um grupo de amigos, então acho que foi nesse espaço que saiu o espetáculo e nós começamos a fazer esse trabalho. Porque também, o "ser palhaço" é difícil de definir. É fácil para você dizer "aquela pessoa é um palhaço", mas chega uma hora também em que você tem que assumir uma identidade: "Eu sou um palhaço". Como você preencher um cartão de embarque, "Profissão". Eu não sei o que colocar ali. Então é difícil responder o que eu era exatamente antes de ser um palhaço. Posso falar que já trabalhei com música, televisão, já fui office-boy, já trabalhei numa lavanderia, por aí vai.

Então você entrou pra essa profissão através de um grupo de amigos?
A gente formou um grupo cultural onde não éramos palhaços, estritamente, mas também fazíamos música, fotografia, cinema... Depois começaram a aparecer as artes cênicas, como malabares. E aí começamos a fazer apresentações, sem uma idéia muito de palhaços, mas fazendo apresentações circenses, e essa figura começou a tomar uma forma. A gente começou a conhecer e a trabalhar com outros palhaços, com outros artistas.

E como é a vida de vocês agora?
É uma pergunta difícil de responder. A nossa vida é igual a de todo mundo. Primeiro porque nós somos pessoas, moramos em uma casa. Viajamos muito, mas no geral temos uma vida normal. Ao invés de estar em uma loja vendendo sapatos, a gente está fazendo uma apresentação de circo na rua.

Vocês viajam muito. É complicado conciliar família e o trabalho de vocês?
É, é complicado. Nós quase que somos obrigados a viajar, porque o circo de palhaços é itinerante. Mas nós nos consideramos trabalhadores. É o nosso trabalho, assim como o vendedor de sapatos. Cada um tem suas características. A nossa é viajar muito. Mas vender sapatos e atuar como palhaço são trabalhos igualmente. Pra melhor ou pra pior. Então eu acho que aí é uma coisa da pessoa. É um trabalho diferente porque você tem que viajar, fazer apresentações, e a pessoa que vende sapatos tem que fazer alguma outra coisa. Mas, para completar, sim, é difícil conciliar família. Sobretudo por ter de viajar, essa questão do trabalho itinerante. Tem que tomar cuidado, é uma linha complicada. Você não pode se afastar muito, mas não pode deixar de trabalhar.

Alguma vez você se sentiu falhando, teve que interromper a apresentação?
Sim, muitas vezes.

O palhaço de rua mantém alguma semelhança com o palhaço de circo?
Sim, claro. A estrutura interna do ator é a mesma, é a estrutura do espetáculo que é diferente. Na rua você improvisa mais, você pode ver um cachorro passando e fazer alguma piada com o cachorro, o que não acontece no circo. A apresentação é diferente, mas o palhaço não muda.

O que vocês mais gostam no seu trabalho?
A grana (risos). Quer dizer, a possibilidade da grana, porque isso a gente não tem. Mas eu nunca pensei sobre essa questão. Às vezes você não tem muito tempo pra pensar no que você mais gosta. Se você é, você é. Seria como perguntar a um pássaro o que ele gosta mais em ser pássaro. Você é pássaro. Tem coisas ruins e tem coisas boas, imagino. Não dá pra dizer exatamente. Eu gosto, por exemplo, de chegar aqui e me encontrar com o Xisto, que a última vez que o vi foi ano passado em Porto Alegre. É uma alegria, mas é só isso.

Como é o lado cotidiano? A vida fora do palco?
Eu não consigo ser palhaço todo dia. É um momento especial quando visto a roupa e os sapatos. Mas é muito diferente da vida cotidiana. É uma espécie de esquizofrenia. Você tem duas personalidades conflitantes. Quando você entra para atuar como palhaço, a personalidade escondida se mostra, e você vira outra pessoa. E é interessante, porque as pessoas acham que você é sempre assim, elas não enxergam essa outra personalidade, a cotidiana.

por Ana Rafaela da Silva, Caroline Simões, Gabriel Koritzky, Gisela Cardoso e Hiago Castro
(alunos do primeiro período do curso de Comunicação Social - Jornalismo, como exercício da disciplina "Introdução ao Jornalismo")

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